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Delegado pede arquivamento de inquérito contra PM que atirou em caminhoneiro

O delegado de Volta Redonda Antônio Furtado informou nesta terça-feira, em entrevista coletiva, que está pedindo à Justiça o arquivamento do inquérito aberto para apurar a responsabilidade de um sargento da Polícia Militar pela morte do caminhoneiro Wallace Silva Sanches, de 29 anos, em julho deste ano, no Belmonte. O motorista, que estava armado, foi atingido com um tiro de pistola no peito depois de o policial ordenar que ele largasse a arma. A conclusão da Polícia Civil foi de que o caso se enquadra na tese da legítima defesa ficta ou imaginária.

– Foi um caso inédito na minha carreira e creio que chegamos a uma solução justa – disse Furtado, que antes de divulgar as informações à imprensa informou a conclusão do inquérito aos parentes do caminhoneiro. Segundo ele, o pai de Wallace, Jorge Sanches, disse que não vai contestar a conclusão.

No dia em que a tragédia ocorreu, parentes e vizinhos do caminhoneiro se revoltaram e chegaram a apedrejar a viatura da PM em que estava o sargento e seu parceiro. “Não agimos conduzidos por corporativismo”, frisou o delegado. O inquérito tem 101 páginas. Foram ouvidas dez pessoas, realizadas quatro perícias e, cerca de um mês depois, a reconstituição do crime.

COMO FOI – Segundo as investigações, os policiais militares foram acionados pelo Ciosp (Centro Integrado de Operações de Segurança Pública) para comparecer na Rua Santa Catarina, no Belmonte, onde um homem armado estava ameaçando familiares. Quando os PMs chegaram, Wallace estava no segundo andar do imóvel, junto com a irmã, a cabeleireira Maira Silva Sanches Pereira, de 25 anos, e a namorada dele, Jamille dos Santos Almeida, de 21, que tentavam demovê-lo de não atirar no cunhado Thiago Rodrigo Pereira.

Chamada por Thiago à entrada da residência, Maira abriu o portão para que o sargento subisse. Segundo o militar relatou, após ordenar que o caminhoneiro largasse a arma, Wallace teria feito um movimento brusco, o que o levou a atirar. Já a versão de Jamille é de que a vítima teria sido alvejada depois de largar o revólver calibre 38.

O inquérito policial apurou que, na noite em que a tragédia ocorreu, Wallace chegou de São Paulo e, com seu caminhão, perseguiu o carro de Thiago pelas ruas do Belmonte. Ele estava irritado porque desconfiava que o cunhado estava tendo um caso extraconjugal. “Ele só não jogou o caminhão em cima do carro porque Thiago fugiu por uma rua, entrando pela contramão”, disse o delegado.

O caminhoneiro foi então para casa para pegar a arma. Ele teria dito que iria matar o cunhado. “Todos sabiam que ele tinha uma arma. O Thiago chamou a polícia, que, quando chegou à residência, ouvia os gritos do caminhoneiro, que estava há três noites sem dormir”, acrescentou Furtado. De acordo com os depoimentos, o sargento foi quem subiu e, ao chegar ao corredor que leva ao quarto onde o caminhoneiro se encontrava com a namorada, ordenou por duas vezes que ele largasse a arma.

 “Na reconstituição ficou claro que, em vez de largar a arma, Wallace a escondeu na cinturas, nas costas e foi em direção ao corredor, quando então fez o movimento brusco”, ressaltou Furtado. Segundo ele, apesar das duas versões, em nenhuma delas o PM poderia ser responsabilizado. Embora acredite que Wallace não tivesse intenção de atirar no sargento, Furtado salientou que todas as suas atitudes levaram o PM a acreditar que ele fosse fazê-lo.

– A legítima defesa imaginária afasta a culpa do policial – concluiu o delegado. Ele citou que a mesma tese livrou de responsabilidade um policial do Bope que, em 2010, atirou num morador de um bairro do Rio que portava uma furadeira e que ele pensou ser uma metralhadora. “O cabo foi absolvido”, disse, frisando que o episódio relacionado a Wallace “foi muito mais real”.

– Classifico o que ocorreu como uma fatalidade. Indiciar o PM seria uma injustiça e geraria medo nos policiais de enfrentarem situações semelhantes – entendeu Furtado.

Para ele, a forma como Wallace agiu a partir da chegada da Polícia Militar pode ter relação como o fato de que ele já estava praticamente aprovado num concurso para ingressar na corporação. “Uma testemunha relatou que a expressão dele mudou ao saber da presença dos policiais na casa. Sabia que não poderia continuar no concurso, o que ele queria muito. Se tivesse se rendido de imediato, seria trazido pela delegacia e preso em flagrante. Teria fiança fixada, mas não poderia ingressar na Polícia Militar. Acho que, neste momento, houve mais um curto-circuito na cabeça dele”, analisou Furtado.

Segundo a família, Wallace comprou a arma porque, como caminhoneiro, viajava com frequência para São Paulo e temia ser assaltado.

O delegado explicou que o pedido de arquivamento está sendo encaminhado ao Ministério Público, a quem caberá a remessa ao juiz, concordando ou não com a conclusão. Fernando Pedrosa/Foco Regional

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