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Instituto Dagaz compõe produção de videoclipe do rapper Jota Jr

Gravação aconteceu na Fazenda Santana do Turvo, onde abriga Ponto de Memória

Na última terça-feira, dia 30, o Instituto Dagaz acompanhou de perto a gravação de um videoclipe do rapper carioca Jota Jr., que escolheu a Fazenda Santana do Turvo, no distrito de Amparo, em Barra Mansa, como cenário. O local histórico abriga o Ponto de Memória Afro da ONG, com exposição permanente do livro “A Cozinha dos Quilombos: Sabores, territórios e memórias”. A previsão, segundo o músico, é que o lançamento de “Desculpe por ser negro” aconteça, não por acaso, em 20 de novembro – Dia da Consciência Negra, no canal Tudubom Records, no YouTube. Mas para conhecer o novo disco, o público terá que esperar até janeiro.

Apesar de ser a primeira vez que o Instituto Dagaz participa de uma produção de Jota Jr., essa parceria começou em junho deste ano. Quando a ONG exibiu o documentário “Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil”, no Condomínio Cultural, o rapper compôs a mesa de debate. E foi nessa ocasião que o músico soube do Ponto de Memória Afro e o fato de estar numa fazenda onde houve escravidão despertou nele o interesse para contextualizar com a letra de sua nova música. E, segundo ele, que antes de gravar só conheceu o lugar por fotos, foi surpreendente.

– A gente teve uma noção de como era a fazenda através das fotos que a Renata [coordenadora do Instituto Dagaz] mandou. Mas quando chegamos lá, fomos de fato para 1846. Conseguimos sentir a energia do lugar e até comentei com a minha namorada, que também é minha produtora, que a gente sente que houve coisas tensas ali. Mas como a gente tem a ideologia de levar coisas boas, recordar coisas bacanas, a gente sabe que quem está nos olhando está se sentindo representado e manda positividade para o andamento do nosso projeto. E com essa experiência eu senti o quanto estou sendo aceito e a responsabilidade que tenho de carregar isso para o resto da minha vida. Foi tudo muito além das expectativas – considerou Jr.

Ponto de Memória

O Instituto Dagaz foi contemplado com o Prêmio Ponto de Memória em 2015 pelo Ministério da Cultura e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). E segundo a diretora executiva da ONG, Marinez Fernandes, essa parceria corrobora com o fundamento do Ponto de Memória Afro, uma vez que contribui para a preservação da história, assim como a obra que norteia o projeto do Dagaz: o livro “A Cozinha dos Quilombos”. Também por essa produção literária, o instituto conquistou o Prêmio de Cultura Afro-Fluminense, no mesmo ano.

– É gratificante e fortalecedor poder contribuir na produção desse projeto, pois somos engajados no fomento da cultura afro e é uma forma de também divulgar esse espaço tão especial. Tivemos as portas abertas pela Fazenda Santana do Turvo e nada mais justo do que perpetuar esse resgate histórico. Assim como o livro, esse videoclipe é um exemplo de reconhecimento, incentivo e fomento para a continuidade e sustentabilidade na perspectiva do Programa Ponto de Memória – destacou Marinez, comemorando mais essa parceria.

A coordenadora Renata Ferreira participou da produção executiva do videoclipe e também destaca o significado que uniu o contexto do local com a temática abordada. Além disso, ela lembra que um dos objetivos do Ponto de Memória é cumprir a Lei 10.639, através do turismo pedagógico, que propõe o ensino da história e cultura afrobrasileira e africana a crianças e jovens.

– Sabemos que para o Jota Jr. e sua equipe foi importante conseguir um lugar tão importante como cenário para gravar. Mas para nós também é especial, pois temos um trabalho contínuo na luta e resistência para manter a cultura afro viva. O Instituto Dagaz vem batalhando e acreditamos que iniciativas como essa, de forma cultural, além da educação, é que vão nos ajudar a fortalecer essa estrutura e disseminar os propósitos do Ponto de Memória – observou Renata.

Desculpe por ser negro

Jota Jr., como é popularmente conhecido, sobretudo pelas redes sociais na internet, é João José Luiz Júnior, que apesar de estar há dez anos na música, ganhou visibilidade a partir de dezembro de 2017. Trabalhando como gari no Rio de Janeiro – origem do canal no YouTube “Fala tu Gari”, ele começou a fazer vídeos com comentários sobre o que ele observava no dia a dia, sobre comportamentos sociais, educação e machismo. E a música “Desculpe por ser negro”, de autoria própria, assim como o roteiro do videoclipe, promete ser polêmico, afirma o rapper.

– A ideia é fazer o que o pessoal mais odeia que o “mimimi”, como chamam. Vai ser um choque de realidade, com uma abordagem bem lapidada. E foi um vídeo que eu fiz sobre as cotas raciais que me inspirou. E através desses vídeos eu sei que fez muita gente repensar. E a gente vai passar essa mensagem mais uma vez, de uma forma diferente, e vai ser bem polêmico – considera o músico, que observou e comemorou o fato de todos os principais envolvidos no projeto serem negros. “A gente quebrou o padrão do que normalmente são as produtoras e os projetos. Está acontecendo tudo do jeito que tinha que ser mesmo, num lugar bacana, com pessoas bacanas”, completou.

Influenciador digital, ele também fez observações sobre a possibilidade do Governo Federal reduzir o Ministério da Cultura a secretaria com a posse do novo presidente eleito. “A exemplo do próprio Rio de Janeiro, vimos o que a redução no investimento da cultura causou, muitos pontos de cultura com dificuldades, projetos enormes não podendo acontecer. Em pequena escala, eu vi efeitos colaterais da falta de atenção à cultura. E agora teremos isso em grande escala, no país todo e isso é muito preocupante. Não sou uma pessoa partidária, sou progressista, quero ver o Brasil evoluir e quando vejo gente indo no sentido reverso a isso, tenho que me opor. Vamos ter que esperar para ver o que vai acontecer para saber quais serão nossas alternativas”, disse.

Comumente, Jota Jr. utiliza lugares que conversam com a sua realidade ou com a mensagem que quer passar nas músicas como cenário. Mas as projeções para ainda este ano vão muito além do Complexo da Penha, onde mora. Em dezembro, o músico e sua equipe vão fazer um tour pela Europa. Entre os planos está gravar um clipe em Portugal, disco e clipe na França e documentário na Holanda. Mas ainda no Brasil, apresentará projeto em Campo Grande, sobre igualdade racial nas escolas, dará palestra para jovens em Porto Alegre, e será recebido também na Região dos Lagos.

Ficha técnica do videoclipe “Desculpe por ser negro”

Diretor: Luis Luix

Roteiro: Jota Jr.

Assistente de produção: Renato Jamessem

Produção executiva: Renata Ferreira (Instituto Dagaz)

Maquiagem: Vivian Regina

Cobertura fotográfica: Fran Kquinha

Personagens (escravos): Yves Mak e Miguel Guercy

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