Edir Alves, 72 anos, conselheiro no MEP (Movimento Ética na Política), preso e torturado no BIB (Batalhão de Infantaria Brindada) em 1970, em Barra Mansa, promoveu no sábado na sala D. Waldyr Calheiros, espaço que acolhe o Pré-vestibular Cidadão, uma palestra sobre ditadura militar.
Falando de forma firme e com momentos de emoção, provocou surpresas na maioria dos alunos, pois uma boa parte tinha dúvida sobre a ditadura instalada com o golpe do dia 31 de março de 1964.
O conselheiro detalhou aos presentes o movimento que provocou a morte de muitas pessoas, inclusive inocentes. “Vocês acabaram de ouvir um testemunho vivo do sofrimento que a ditadura provocou.
Waldyr Calheiros foi o pastor que teve coragem de denunciar e proteger nossas famílias. Ele nos salvou da morte”, concluiu agradecido o ex-metalúrgico. A aluna Leidiane Lourenço, agradeceu a palestra em nome dos presentes. “Fico agradecida pela sua coragem de testemunhar algo que muitos de nós nem imaginávamos”, disse Leidiane.
O professor Alexandre Batista da Silva trabalhou com a turma aspectos da sociedade contemporânea relativos ao conceito de pós-verdade e suas influências. Participaram também os professores Robson Oliveira e Luísa Ferreira.
Ex-presos políticos e soldados visitam batalhão em que foram torturados
Agência Brasil
O Parque da Cidade, que abrigou o prédio do antigo 1º Batalhão de Infantaria Blindada do Exército (BIB) de Barra Mansa, região sul do estado do Rio de Janeiro, foi visitado em 1974 por ex-presos políticos do período da ditadura e parentes de soldados que foram torturados e assassinados no local. O assassinato dos soldados foi o único caso do regime militar que resultou no julgamento e condenação de militares.
A visita foi acompanhada por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Comissão Municipal da Verdade de Volta Redonda, assim como das comissões Estadual do Rio e Nacional da Verdade. A visita teve como objetivo identificar os locais onde os presos foram torturados durante o funcionamento do 1º BIB e registrar, através de fotografias e filmagem, as instalações e seus entornos.
“As Forças Armadas continuam negando que não houve desvio de finalidade nas instalações militares, sendo que, nesse episódio de 15 soldados presos e torturados, a Justiça Militar acabou condenando os responsáveis pela tortura e morte dentro do BIB. Foi o único caso em que isso ocorreu durante a ditadura militar e, por isso, não podemos nos conformar com as declarações dadas pelas instituições militares”, disse Nadine Borges, presidente da Comissão da Verdade do Rio, que acompanhou a diligência ao lado de Alejandra Estevez, representante da Comissão Nacional da Verdade, e Alex Martins, presidente da Comissão Municipal de Volta Redonda.
Os ex-presos políticos Edir Alves de Souza, Antônio Liberato Geremias e Lincoln Botelho também acompanharam a diligência e reconheceram os locais da tortura, as celas e solitárias, além do local conhecido por “submarino”, onde funcionava um paiol e servia para a prática de tortura psicológica, pois o preso não conseguia discernir quando era dia e noite.
Edir Inácio da Silva, um dos ex-militares que também acompanhou a diligência, disse que “a tortura não acontecia apenas com o preso político”. Para o presidente da Comissão Municipal da Verdade de Volta Redonda, Alex Martins, “através desses depoimentos vamos entender a logística dessa estrutura e como funcionava a unidade”.
O 1º BIB serviu como centro de tortura e detenções de 1964 a 1973, onde se estruturou a repressão militar para a região sul do estado do Rio de Janeiro. Atualmente no local estão instalados um circo, o comando da Guarda Municipal e a Secretaria de Desenvolvimento Rural. Foi lá que, em janeiro de 1972, quatro soldados – Wanderlei de Oliveira, Juarez Monção Virote, Roberto Vicente da Silva e Geomar Ribeiro da Silva – foram torturados e mortos.