A Câmara de Vereadores de Barra Mansa celebrou o Dia da Consciência Negra e a luta pela igualdade racial em sessão solene na terça-feira, 18 de novembro. Conduzida pelo advogado Carlos Augusto Silva, a cerimônia teve a presença da secretaria municipal de Educação, Lusia Melchiades, representando o prefeito; do gerente de Promoção da Igualdade Social, Walmiro Fabiano Júnior; do coordenador da FAETEC, André Luís; da gestora da Cruz Vermelha da cidade, Sueli Gabriel, e demais homenageados da noite.
O gerente da Promoção da Igualdade Social iniciou a sessão, falando sobre a importância de respeitar todas as etnias e religiões, assim como Nelson Mandela, que dá nome ao certificado de honra entregue àqueles que lutam pela igualdade em Barra Mansa.
-Algumas entidades de Barra Mansa sempre atenderam a luta pela igualdade social, religiosa, racial e sexual e merecem ser homenageadas com o certificado de honra “Personalidade Nelson Mandela”, que foi o maior líder da luta negra no mundo. Elas não se importaram em lutar pela igualdade e fraternidade. Não podemos ficar agarrados a um passado homofóbico, racista e com preconceito religioso. Como estado laico, se há preconceito religioso, estamos rasgando a Constituição – afirmou Walmiro em seu discurso.
O Certificado de Honra “Personalidade Nelson Mandela” foi entregue a diversas personalidades e entidades barra-mansenses que lutam pela igualdade social na cidade. Os homenageados foram: o presidente da Ubuntum (Religiões de Matriz Africana); o movimento LGBT de Barra Mansa; Mestre Guilé; a Cruz Vermelha; o Núcleo de Apoio aos Portadores de HIV; Altami Alves e Alexandre Carlos, diretores da Banda G; Paulo Marques, responsável pelo Memorial Mandela e Rosângela Nogueira Santana da Silva.
A secretária, Lusia Melchiades, afirmou que a educação é essencial na luta contra o preconceito.
-Todos nós somos descendentes de negros e como tal devemos nos respeitar. Nelson Mandela dizia que a maior arma que temos contra o preconceito é a educação. Por isso, investimos na educação de nossos jovens e crianças para serem mais conscientes – afirmou Lusia.
Representando os vereadores, Cláudio da Silva Cruz, o Baianinho, apresentou dados que confirmam o preconceito na sociedade.
-Costumamos dizer que no Brasil não existe racismo, mas os números comprovam o preconceito no país e mostram a situação vulnerável em que os negros se encontram. Mais da metade da população é formada por negros, mas os dados mostram que 9% dos negros estão desempregados, entre os não negros esta taxa cai para 7%.E mesmo quando o negro ingressa no mercado de trabalho, ele sofre prejuízos, tendo em vista que o salário do não negro é de 40% a 50% maior do que o salário do negro. Além disso, constatamos que a população carcerária é majoritariamente negra. Houve avanços na luta pela igualdade, mas precisamos avançar mais, através de leis públicas, como a que inclui no currículo escolar a disciplina de História Afro ou a que institui o sistema de cotas em universidades e concursos públicos. – afirmou Baianinho.
Além dos certificados de honra, foram entregues três medalhas concedidas a representantes do movimento contra o preconceito racial, social, sexual e religioso em Barra Mansa. O presidente da Ubuntu foi agraciado com a Medalha Maria Moçambique; o Movimento LGBT recebeu a Medalha Maria Sacchi; o Mestre Guilé, de capoeira, foi homenageado com a Medalha Zumbi dos Palmares e a artista plástica Izabel Adelina Colimério foi agraciada com a Medalha Tereza de Benguela. O presidente da Ubuntu, Sérgio, falou representando os homenageados.
-Existem em Barra Mansa mais de cem casas de religião africana, que realizam trabalho social dentro de suas comunidades e precisam ser respeitadas. O âmago das religiões africanas é a solidariedade, seu lema é “como um pode ser feliz, se os outros estão tristes?”. Todos devemos respeitar o outro independentemente de cor, classe, social, religião – discursou Sérgio.
O vereador Lia Preto parabenizou os agraciados da noite e discursou sobre a importância do sistema de cotas para minimizar injustiças históricas.
-Estou feliz pelo agraciados da noite e os parabenizo por sua luta. É muito importante a criação de leis de cotas, como a Lei 6914/2014, que institui o sistema de cotas em pós graduações para negros e em situação social vulnerável. Se a implantação de cotas fosse desnecessária, não estaria sendo discutida em uma esfera federal, este, ainda, é um mal necessário, até que tenhamos uma sociedade igualitária. Em Barra Mansa estamos trabalhando em uma lei que inclua o sistema de cotas nos concursos realizados pelo município – afirmou Lia Preto.
O presidente da Câmara de Vereadores, Marcelo Borges, encerrou a sessão afirmando que criará uma comissão para defender a igualdade racial.
-A Câmara está sempre de portas abertas para a população e suas reivindicações. É importante participarmos desse debate sobre o preconceito e lutar contra o preconceito racial e religioso. Vamos criar uma Comissão Permanente para defender a igualdade racial e social no nosso município. Logo aprovaremos a lei de cotas para concursos públicos em Barra Mansa e lutaremos sempre para corrigir as injustiças históricas causadas pelo preconceito. Todos os agraciados estão de parabéns pelo seu trabalho, mas fico especialmente feliz, por poder agraciar a senhora Izabel Adelina com a Medalha Tereza de Benguela, que foi instituída através de um projeto de lei de minha autoria – afirmou Marcelo.